“Detroit” reconstrói conflito racial com ares de bomba-relógio

As revoltas explosivas em cidades americanas na década de 1960 durante confrontos por direitos civis dos negros já renderam bons filmes. Mas a diretora americana Kathryn Bigelow chega a um refinamento cinematográfico surpreendente com “Detroit em Rebelião”, um dos grandes lançamentos do ano.

Dizer que esse é o melhor longa da diretora não é pouco. Bigelow, 65, começou a carreira nos anos 1980 com bons filmes de ação. Em 1993, dirigiu um dos exemplares impecáveis do gênero, “Caçadores de Emoção”, com Keanu Reeves -é bom não confundir com a refilmagem pavorosa de 2015.

Depois, foi aperfeiçoando sua narrativa enxuta e ágil em produções com cada vez mais conotação política. Em 2010, ela se tornou a primeira mulher a ganhar um Oscar de direção, uma das seis estatuetas (incluindo melhor filme do ano) dadas a “Guerra ao Terror”, seu retrato do dia a dia de soldados americanos desarmando bombas no Iraque.

A conquista também chamou atenção porque Bigelow, com essa produção modesta, bateu o megalomaníaco e favorito “Avatar”, dirigido por seu ex-marido James Cameron. A disputa do Oscar teve tempero de briga de casal.

Agora, com “Detroit em Rebelião”, a cineasta opta mais uma vez por focar um microcosmo dentro do cenário maior das revoltas. Seus personagens são um grupo de rapazes negros passando a noite em um pequeno hotel, enquanto do lado de fora a cidade queima em episódios violentos.

Duas garotas brancas, turistas em busca de diversão, estão no mesmo hotel e se aproximam deles. Uma das inúmeras batidas policiais em progresso vai inserir na história um clima de terror.

Três policiais brancos acreditam que um tiro contra eles saiu do hotel. Uma vez lá dentro, subjugam os garotos para interrogatório em um inferno de torturas físicas e psicológicas.

Para conduzir a história, surge um vigia negro de uma loja vizinha, numa ótima interpretação de John Boyega, da atual trilogia de “Star Wars”. Ele se oferece para ajudar os policiais e cria mais um elemento de tensão. Na verdade, quer ficar ali na esperança de evitar abusos maiores, depois que percebe a fúria racista do policial Krauss, ótimo desempenho de Will Poulter.

Todo o jovem elenco está muito bem, contribuindo para que o clima tenso construído na tela ganhe ares de uma bomba prestes a explodir. O encadeamento crescente dessa violência concentrada no pequeno cenário do hotel é angustiante, faz de “Detroit em Rebelião” cinema de primeira, um desafio para a sensibilidade do espectador.

Com pouco menos de três meses para terminar o ano, é possível arriscar que vale a pena Kathryn Bigelow pensar em seu discurso na cerimônia do Oscar 2018. Se a Academia de Hollywood se rendeu, com justiça, a “Guerra ao Terror”, desta vez não tem como ignorar a aula de cinema que é “Detroit em Rebelião”.

DETROIT EM REBELIÃO (ótimo)(Detroit)DIREÇÃO Kathryn Bigelow

ELENCO John Boyega, Will Poulter, Algee Smith

PRODUÇÃO EUA, 2017; 16 anos

QUANDO estreia nesta quinta (12)

Por THALES DE MENEZES, da Folhapress

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